miércoles, 4 de septiembre de 2013

Aforismo Incondicional

Mocinha boba quiçá,
Pensei num mundo colorido
Donde tu eras o arco
De uma flecha
Destinada ao infinito

Mocinha ingênua quiçá,
Cruzei fronteiras todas
A espera do incondicional
Favorito dos aforismos
Tão distante como tudo possível

Mocinha orgulhosa quiçá,
Resisti além das forças
Donde tudo era cansaço
Perseverei à intempérie
A espera do guarda chuva
Que me salvaria do estio

Mocinha vencida quiçá,
Icei as velas
Naveguei sem rumo
Até portos coloridos
Donde o mundo termina
E onde com sorte quiçá,
A vida recomece.

Meninice

Vento não
Corro sim
Pelo bom
Bom fim.

Lamento


Eu quis você tanto
Que me esqueci de medir a hora
E o tempo passou voraz
Como um cavalheiro a caminho da batalha
Entrei-me tão inteira no rio
Que me esqueci de buscar a margem
E as águas passaram resolutas
Como a espada ao cortar a pele nua
Eu resisti tanto
Que me esqueci do profundo cansaço
E o corpo padeceu insensato
Como a voracidade resoluta do adeus.

viernes, 8 de junio de 2012

Si bemol





Nunca mais visitastes esta página da minha vida
Onde todos os versos rimam você
Esquece-te o amor lírico
Que em mim florescia
A cada gesto mínimo
De tua delicadeza
Que desde tempos
Perde-se tímida
Deixando a melhor marca
Para outros corredores
Mais velozes
E menos Veloso
E as pequenas belezas,
O calor do sorriso,
A promessa do para sempre,
Tudo isso
Passou à história
Num sem sentido que dói
Em si bemol

jueves, 10 de mayo de 2012

Babar-te




Fotografei minha língua na tua
Imortalizei este gesto simples
De babar-te sem pudor ou medo
Quisera poder ter-te sempre ao meu lado
E babar-te diariamente
Como se esta fosse
Uma mais das rotinas obrigatórias
Mais feliz do que imaginas, conjugaria este verbo
Até a primeira pessoa do plural
E nossas línguas juntas
Fariam um nós












A estranha beleza do mundo
Começa onde muitas coisas terminam
No abraço que despede ao corpo querido
No sussurro do fim da voz
No último brilho de um sol poente
No quase recordar-se do detalhe remoto
Que não obstante permanece esquecido
A estranha beleza do mundo
É conteúdo para todo sentido
Mas sua presença infinita em tudo o que é ou pode ser
Faz dela uma certeza ausente
Uma intuição permanente
Que se esconde cada vez mais distante
Se por ela se busca obstinadamente
A estranha beleza do mundo
Requer do mundo um voto de silêncio
Convida a um deixar-se estar
Mais que por amor
Por pura boa vontade
E assim
Goteando suas maravilhas
De maneira tão impertinente
Essa estranha beleza realiza-se profunda e lentamente
Como aquilo que passa sempre despercebido de muitos
Pese a ser tão minuciosamente observado por outros
A estranha beleza do mundo tem um pacto com o tempo
Nunca puderam concordar sobre forma, ritmo ou objetivo
E por isso nunca se convidam a tertúlias no chá das cinco
Mas se respeitam profundamente
E sempre que podem
Dançam em silêncio
Ao meio deste gigante salão
Que em outras prosas se chama vida.





jueves, 15 de marzo de 2012

O que nunca se teve



Quando surgiu essa dor em mim

Pensei que a loucura entrava

Desenfreada em minha casa

Deixando atrás de si uma porta aberta

Sem chave que a pudesse fechar

Como pode um braço sentir a ausência de uma mão que nunca houve?

Como pode o peito encolher-se de saudade daquilo que nunca amou?

E eis que se perde o que não se teve

E se sofre o que não se merece

Pequeno é o olho que não enxerga

Os vastos campos de tudo aquilo que se deseja

Quando se sabe dos caminhos suas curvas

E das possibilidades os seus fracassos

Pode-se intensamente prezar

O que poderia haver sido

E assim chora o olho sem haver visto

Exala o pulmão sem haver respirado

Nada o corpo imerso a um mar imaginário

Como se todas as caravelas içassem suas velas

Com destino a horizontes nunca antes inventados